Então os avós não merecem nada? Por mim, merecem TUDO. Então esses entes queridos não merecem a nossa atenção? Por mim, TODA. Deixem-me partilhar convosco duas palavras sobre os meus. Começando pelos meus avós maternos, guardo a imagem duma avó paciente, tolerante e resignada. Do meu avô, recordo as histórias da 1.ª Grande Guerra contadas à lareira, em Cabeçais, freguesia de Fermedo, concelho de Arouca. E a minha memória vai buscar as imagens de toda a Natureza que envolvia a casa dos meus avós maternos e por onde eu andei sem nunca me perder. Vai também buscar os aromas e os sabores da uva americana, do pisa uvas no lagar e das Festas da Senhora da Saúde. E andar no carro de bois do Sr. José da Casanova? Quando vazio, imaginava-me um romano. Quando cheio, era a aventura e a loucura dos verdes anos, em cima do carregamento se ele fosse fofo. Dos meus avós paternos, apenas conheci a minha avó. Foi em Valongo e guardo a memória de uma mulher que era a verdadeira alegria no trabalho. Ainda tenho um rádio PHILLIPS, de válvulas, que ela me ofereceu em vida. E, quando recordo a minha avó paterna, recordo as brincadeiras com o meu primo por aqueles montes de Valongo. Estão recordados os meus avós.
Um português foi condenado a prisão perpétua pela morte da namorada, e depois acabou absolvido.
Um ano depois de ter regressado à sua casa no Feijó (Almada), após provar a sua inocência às autoridades do Reino Unido, Nicolas Bento, o emigrante português que chegou a ser condenado a prisão perpétua, acusado de ter assassinado a namorada em Inglaterra, ainda mistura sentimentos díspares. Entre a amargura dos pesadelos, revolta e dor consegue encontrar a alegria de quem tem uma vida livre pela frente.
Quando a 9 Julho de 2009 Nicolas Bento recebeu a notícia de que tinha sido finalmente libertado pelo Tribunal da Coroa de Luton, que declarou a sua inocência por falta de provas no caso de homicídio, estava longe de imaginar que iria ser "tão difícil" seguir em frente com a vida. Afinal, esteve preso dois anos e meio na ala destinada aos criminosos mais perigosos. Tinha sido condenado dia 25 de Julho de 2007 pela morte da namorada polaca Kamila Garsztka.
No dia de 24 de Julho de 2009 entrou heroicamente no bairro do Chegadinho, onde residia com a família, na Rua Almada Negreiros, garantindo que a partir dali iria viver "uma vida nova", que seria "um novo começo". Hoje, mesmo com o apoio psicológico que tem recebido, ainda há medos e imagens obscuras que o perseguem. "Isto não é uma coisa do passado, é bem presente. É um grande sofrimento e uma ferida que está aberta. Não sei se algum dia vai fechar, por mais anos que viva", desabafa. Entre os vários conflitos que o perseguem, Nicolas esbarra com uma pergunta incontornável: o que terá acontecido à namorada?
Nem por isso deixa de reconhecer que "a vida é linda" e que a tenciona "aproveitar ao máximo", sobretudo agora que está na iminência de ser pai, o que lhe renova as "forças" para continuar a lutar.
Hoje, com 31 anos, Nicolas aguarda pela chegada do primeiro filho com a jornalista da RTP Patrícia Lucas, que realizou várias reportagens sobre o drama vivido pelo actual companheiro em solo britânico, com quem viria escrever o livro Inocente/Not Guilty, que conta os vários pormenores deste erro judiciário em Inglaterra.
Entretanto, anuncia para breve a abertura em Lisboa, onde reside, de um estúdio audiovisual. "Estou a estudar para isso", revela, admitindo o seu gosto pela fotografia, além do invulgar jeito para o desenho.
Diz que o importante é procurar reconstruir o que a justiça britânica um dia deitou por terra, mesmo numa "guerra constante" em que não consegue encontrar a paz. "Bastava-me ter recomeçado do zero para já ter a vida facilitada. Mas eu estou a recomeçar muitos furos abaixo do zero. O que me fizeram destruiu-me em termos pessoais, financeiros e psicológicos", garante de voz embargada, sem perder a esperança de vir a ser ressarcido pelo cativeiro para onde foi "atirado".
Não revela quanto reclama à justiça do Reino Unido, mas assegura que o pedido de indemnização está em marcha. Reconhece que o processo vai ser moroso, mas garante com serenidade que não lhe falta paciência para esperar. Porquê? "Se estive lá dentro tanto tempo sempre com esperança de um dia chegar cá fora, agora que estou em liberdade não me importo de aguardar muito mais. Esta indemnização é muito mais que um simples número. É uma causa."
Fonte: DN de 2010.07.18
UM COMENTÁRIO: E se tivesse sido condenado à morte?
Por amor de Deus, deixem-me refrescar e, já agora, podem aproveitar também o ar ventilado que esta ventoínha fornece. Não é muito mas é de boa vontade. Andei a informar-me e fiquei a saber que é difícil instalar aqui no blog um ar condicionado. Vai daí, resta a já velhinha e tradicional ventoínha. Sempre é uma ajuda. É para mim e para todos vós. Aproveitem, ok?
Saudações refrescantes do Francisco.
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