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Terça-feira, 19 de Fevereiro de 2008
Nacos da vida
Já por aqui falei na primeira escola onde leccionei na Foz do Douro. Quando lá cheguei fui recebido pelo Delegado escolar que acumulava estas funções com o ensino, professor Ferreira da Costa. Era já um veterano, pertencia àquele estrato de professores primários com saberes adquiridos. Já aqui fiz, num post, em jeito de homenagem a minha admiração por esses mestres. Tinha, segundo me dizia, começado a sua carreira numa escola de Pataias, Alcobaça e contava-me muitas peripécias desse tempo que já as não tenho presente. Chegava à escola no seu “vauxall viva 1000”, era o único professor que chegava lá de pópó digno desse nome, havia outro que tinha uma chocolateira, os outros professores utilizavam os transportes públicos, principalmente o “amarelo”.
Morava na Foz contava-me umas histórias, estas ainda as tenho presente, das festas restritas que se faziam por ali, em que no fim após um convívio animado as chaves dos apartamentos dos pares eram colocadas numa mesa, baralhadas e depois tiravam à sorte e... iam-se divertir!... Comer sempre tripas à moda do Porto, um bom prato por sinal, era indigesto na óptica dos utentes parodiantes dessas festanças. Passadas mais de três décadas e meia estas malandrices já não fazem notícia, aliás nunca fizeram, agora tivemos tudo às escancaras como no “Salão erótico de Gondomar”, no Pavilhão multiusos que decorreu há pouco tempo. A coisa foi muito publicitada e segundo a imprensa até o major fez por lá uma aparição não descurando umas apalpadelas civilizadas. Mas isso também é a não notícia...
Mas ainda voltando ao citado professor, era um tipo da situação. Não fazia parte daquele naipe de professores primários que ao fim da tarde coçavam as cadeiras do Café Embaixador falando mais do mesmo com algum antifascismo de um ou outro sempre com as devidas cautelas pois os bufos nos cafés estavam à cuca destes tertulianos, era antes um isolacionista, salazarista vincado, estávamos em 1971. Dizia-me, sobre os malefícios da primeira república:
- Vá à biblioteca do Porto e veja nos jornais da época a balbúrdia que havia com manifestações e sarrafuscas, golpes e contra golpes quase todos os dias. E concluía, Salazar veio pôr ordem no país. (Ainda não se falava no 25 de Abril e na instabilidade que também se gerou durante o PREC).
Usava uma régua não para aquilo que estão certamente a pensar, mas para bater com ela na secretária, que já acusava o martírio, para chamar a atenção dos alunos qual professor do petiz, mais tarde escritor, Trindade Coelho que foi acompanhado à escola pela mão da governanta:
“Um mestre sem palmatória é um artista sem ferramenta, não faz nada. Santa Luzia milagrosa! Aqui onde a vê, senhora Helena, tem feito muitos doutores”.
O certo é que naquela altura os alunos, na sua própria irrequietude, acatavam o mestre. Actualmente, e eu que tenho em casa duas filhas professoras, à hora do jantar é só ouvir histórias de cortar à faca, a ribaldaria no ensino é demais! Mas se olharmos para o lado parece que em todos os níveis acontece a mesma bandalheira por este país.
Onde estará o Sebastião José de Carvalho e Melo para pôr tudo nos trinques?!... Nem os actuais Távoras se safavam!...
Fiquem bem, antonio
De
Franc a 19 de Fevereiro de 2008 às 22:21
Que bom que é recordar!!! Saudações bloguistas do Francisco.
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