Os autores deste jornal virtual cumprimentam todos os que passam os olhos pelos assuntos destas páginas.
Quarta-feira, 23 de Abril de 2008
Olhar a cidade

Uma das coisas que mais gosto é andar a vagabundear pelo Porto, terra de que me apropriei  embora a minha residência não seja nesta cidade. Se no passado pisava diariamente as pedras da calçada como se costuma dizer devido à actividade profissional, actualmente não há também dia nenhum em que não pise solo tripeiro. Andar pelas ruas estreitas, desertas, do centro histórico desviando-me aqui e ali de “polícias” canídeos ou passar na Avenida dos Aliados, sala de visitas da urbe, é o constatar de uma cidade que corre a duas velocidades.
Quando nos englobamos nas visitas que a CMP oferece aos seus munícipes, com a sabedoria de Helder Pacheco ou Júlio Couto, bebemos as transformações citadinas ao longo dos séculos e ficamos basbaques com o antes e o depois. As cidades estão numa viragem constante e aqui paro no tempo e em retrospectiva da minha vida, uma geração, noto como o Porto se transformou sobretudo nos actos sociais:
- os merceeiros que tinham os marçanos que iam de pedaleira levar as compras a casa dos clientes em autenticas acrobacias velocipédicas;
- os gravateiros que paravam ali junto à estação de S. Bento com toda aquela panóplia colorida pendurada à frente do peito;
- os ardinas que anunciavam o jornal e o crime de faca e alguidar que tinha acontecido no dia anterior;
- a bateria de engraxadores que existia na Rua Sampaio Bruno, a da imagem. Havia outra das minhas memórias na Rua de Santa Catarina. Ainda tenho no ouvido aquela chiadeira que o pano de flanela fazia quando o graxa o passava em cima dos sapatos;
- os carrejões, havia mais carrejonas, que levavam as malas ou outras mercadorias à cabeça. Fui um dos utentes destes serviços como já referi numa crónica;
- a madrugadora vendedeira do leite ao domicílio com os típicos canados;
- o castanheiro, com o aspecto rude que vinha lá do interior da terra da castanha, apregoava e vendia-as cozidas que transportava num saco de serapilheira a tiracolo, “quentes e boas!”;
- a senhora que vendia em Santa Catarina rebuçados “são da Régua”;
- E para finalizar em beleza, aquelas vendedeiras de raminhos de violeta tentavam a sua sorte em frente à igreja dos Congregados que num “markting” apurado tentavam os jovens na compra para oferta às namoradas.

 

Estas são algumas memórias de um tempo. Fiquem bem, antonio

PS: Ah, refiro também os amola-tesouras que ainda há por aí. Anunciavam-se com o xilofone característico e segundo a lenda era sinal de chuva quando apareciam. Na verdade também afiavam as facas. Sim, porque afiações de lápis, passe o eufemismo, havia mais no centro histórico, mas até aí com a desertificação nada já é como dantes. Deixando este trocadilho brejeiro recordo um amola-tesouras que parava junto à porta norte do Mercado do Bolhão. Tinha uma motorizada onde idealizou em engenhosa geringonça montando uma roda de esmeril e uma polie ligada ao motor da bicla. O antigo esforço de dar ao pedal era agora substituído por tecnologia de ponta!...

 



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Publicado por antonioduvidas às 20:49
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1 comentário:
De caminheiro1 a 23 de Abril de 2008 às 22:15
É verdade, sim senhor. Todos estes sons, aromas e sabores foram uma realidade. Tudo acaba, não é verdade? Fica a memória, sim senhor. E tu acabas de contribuir para a memória dos tripeiros. Aproveitem eles bem as tuas crónicas e terão uma perspectiva do antanho da cidade. Aquele abraço do Francisco.


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