Era eu ainda criança e lá pela minha aldeia havia gente verdadeiramente necessitada. Não havia reformas e as pessoas mais frágeis resignavam-se à sua condição de gente com graves carências nem sempre colmatadas pelos familiares também eles depauperados. Salazar tinha dito aos portugueses “livro-vos da guerra mas não da fome” e o povo agradeceu. Havia pobres e esta palavra tem uma carga forte, que andavam a pedir, esfarrapados, de terra em terra, ou porque a sorte nunca os bafejou ou então porque situações adversas se cruzaram nas suas vidas. E aqui estou a recordar-me daquele que ainda conheci, era conhecido por “meio quilo”, a estender a mão pelas festas e feiras das redondezas depois de ter esbanjado toda uma riqueza passageira que granjeara nas minas de volfrâmio de Arouca. Chegou a ter no pós-guerra dois automóveis com chaufer além de propriedades e muita guita. Deambulava na sua volúpia para o casino de Espinho onde, segundo se dizia, a sorte lhe foi madrasta. Aqui abro um parênteses para dizer que o extinto Café Paladium que conheci, na R. Santa Catarina esquina com a Rua Passos Manuel(Porto), onde hoje funciona um pronto a vestir duma cadeia internacional e a FNAC, era um local de negociatas do volfrâmio. Abro novo parênteses para num acto retrospectivo lembrar aquele amplo café com entrada de portas giratórias, tinha também salão de chã e na parte superior muitos bilhares.
A foto em baixo que obtive aqui no Porto é uma amostra da pobreza de hoje na cidade. É outro tipo de carência talvez afectiva, envergonhada, mas que já não é o pobrezinho esfarrapado da minha infância. De indumentária à maneira, este estende a mão de luvas, pois claro. Podíamos ser levados a especular que o nível social dos pobres da cidade está elevado mas não vamos por aí senão teríamos de admitir que o crescimento económico do país está nos tops e isso só acontece com os arrufos optimistas ou miserabilistas conforme as circunstâncias, pontuais, do ministro Pinho!...
Saudações, antonio
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