Tenho para mim que os antigos professores primários das gerações anteriores à minha, e já estou numa fase madura, eram pessoas qualificadas que se dedicavam afincadamente ao ensino dos alunos. Faziam parte dum trio – padre, professor e médico – que durante muitos anos foram a coqueluche da cultura pelo interior do nosso país. Também nas cidades e aqui no Porto em particular, nos primórdios de 1970, era frequente encontrar esses mestres ao fim da tarde em tertúlia de troca de saberes no Café Embaixador na Rua Sampaio Bruno, ou no Palladium na Rua de Santa Catarina ambos em pleno coração da cidade. O velho Natal, um deles, era um ferrinho (velho, é uma força forte de expressão, passe a redundância, pois nem chegou a sexagenário). Eram esses professores, não seguidores do laissez faire, laissez passer, mas exigentes na sala de aula. A cada passo apanho nas biografias de actuais pesos pesados e todos eles não se cansam de elogiar o seu professor primário, Belmiro de Azevedo na sociedade civil e na política Sócrates a título de exemplos. Eu próprio sou também um testemunho do empenhamento da minha professora, única na escola. Sendo natural da cidade assentou arraiais ainda jovem professora na minha aldeia e por lá ficou durante a vida a leccionar. Esteve sempre hospedada, era como se fosse família, na casa dum senhor que tinha um pequeno comércio “venda” e que acumulava com a profissão de capador de quadrúpedes, nas redondezas. Era solteira e assinante do jornal “O Comércio do Porto” que lhe servia de cordão umbilical com a civilização.
Eu que fui um aluno médio não escapava à dureza da professora que usava régua, sim senhor, um tanto ensebada do uso pois era de caixão à cova. Um dia numa sabatina de história fiquei um pouco hesitante na resposta, daí a investida verbal da professora perante a minha apatia:
- Então Antoninho? (era assim que a professora me tratava. Aqui um parênteses para um senão. Eu como era filho dum pequeno proprietário, até calçava chancas, em contraste com a maioria que eram filhos de caseiros, usavam tamancos, era tratado com deferência. Questões culturais da época que durante alguns anos me deixaram marcas pela negativa no relacionamento com os meus colegas.)
- Estou a pensar, Sr.ª. Professora!
- A pensar morreu um burro, vociferava a mestra.
O que se seguiu já não tenho presente mas a coisa era a doer. E então nos ditados, cada erro, cada reguada e na tabuada idem aspas. Todos os da minha geração e anteriores lá da terra recordam a senhora pela exigência e profissionalismo a todos os níveis. Chegava até a mandar alunos buscar a casa os faltosos, pois empregada na escola não havia, certamente estariam a ajudar os pais nos trabalhos agrícolas.
Por tudo isso bem-haja professora D. Maria Mendonça, a homenagem que teve ainda em vida foi bem merecida.
P.S. A história da “menina dos cinco olhos” da imagem ficará para momento oportuno.
Obrigado, antonio
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