Esta é a última hora do dia 24 de Abril de 1974. Esta deve ser uma hora de grande azáfama, de grande nervosismo. Tudo está combinado. É a hora das senhas e das contra-senhas. Não há telemóveis para confirmar tudo. Há a televisão pública, com um canal único, a RTP. Há a rádio, com a Emissora Nacional, o Rádio Clube Português e pouco mais. E há os bufos, os informadores, os suportes do sistema, os abafadores das iniciativas. E há a angústia das famílias com os seus entes queridos no exílo ou nos colabouços destinados a presos políticos. E há o mal-estar generalizado das forças armadas obrigadas a abandonar o lar materno e a ir defender o solo pátrio. E há a revolta das mães que perdem filhos na guerra, o ódio das esposas que perdem maridos nas colónias ultramarinas, a raiva de quem recebia os aerogramas. Tudo isto se acumulou num crescendo de bola de neve para eclodir daqui a pouco. Para gritar bem alto: CHEGA!
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