É no dia 21 de Junho de cada ano que os raios de Sol atingem o Hemisfério Norte de uma forma mais intensa, prolongando o dia e adiando a noite. Chama-se o solstício de Verão. Os corpos e os espíritos estão ao rubro. Festeja-se o amor e pede-se um futuro risonho. É um dia em que todos os sonhos são possíveis. Apesar de apenas recentemente o Homem ter tido hipótese de confirmar este fenómeno astronómico, desde sempre o sentiu ou pressentiu. Um antigo ritual pagão celebrava, precisamente nesta época, o Sol. Os romanos adoptaram-no e era Vesta, a deusa do Fogo, quem recebia os sacrifícios dos animais, danças e cantares já um pouco transformados mas, sem dúvida, relacionados. A religião cristã apropriou-se do clima de festa e regeneração e determinou lembrar S. João Baptista no dia 24 de Junho, que terá nascido precisamente nesse dia e foi introdutor do rito do baptismo, símbolo da renovação na Fé. Há, assim ao longo de quase toda a existência da Hunanidade, energias de tal forma poderosas e canalizadas para esta data, que é quase impossível resistir-lhes – e poucos são os que o querem.
O cronista Fernão Lopes, na Crónica de D. João I do século XV, já fazia referência à celebração do S. João no Porto. No entanto, foi só depois de instaurada a República que o dia 24 de Junho se tornou no feriado municipal. Depois de realizado um referendo pelo Jornal de Notícias, para saber a vontade dos cidadãos, e publicados os resultados a 4 de Fevereiro de 1911, ficou decidido: o 24 de Junho passava a dia oficial de absoluta folia com 6565 votos contra 3075 para o 1.º de Maio. Pouco tempo antes, no século XIX, tinham surgido as primeiras cascatas sanjoaninas. De acordo com o historiador Hélder Pacheco, no seu livro Porto, O Livro de S.João, estas começaram por ser uma reinterpretação dos presépios, em que a sagrada família e oa reis magos eram substituídos pelos santos populares. A tradição fez com que se tornassem os ícones da festa. A estes juntaram-se os alhos-porros, feitos martelos, os manjericos e as grandes e luminosas fogueiras, acesas na chamada Noite Maior, de 23 para 24 de Junho. A tradição popular assegura que, quem saltar a fogueira nesta noite, em número ímpar de saltos, está protegido contra todos os males durante um ano inteiro. Para que a receita não caia em estômago vazio, comem-se também as sardinhas ou as fêveras, o caldo verde e o bolo de S.João, com frutas cristalizadas, nozes, amêndoas, licor, rum, conhaque e leite, segundo a receita oficial apadrinhada pelos especialistas Hélder Pacheco e Hélio Loureiro. A festa começou por ser mais vivida no centro histórico, mas hoje espalha-se por toda a cidade. E, se cá em baixo não se dança, basta levantar os olhos para saber de que festa se trata: os balões de papel, impulsionados pelo ar quente e que se elevam no ar, enchem o céu de mil cores. Não há canto da Invicta que não lembre que é dia de animação, já que as rusgas se espalham tão rapidamente quanto o rastilho do fogo de artifício que ilumina esta noite.
A manhã de 24, a do feriado, pode não começar cedo mas inicia-se em grande com a Regata dos Barcos Rabelo, que junta os funcionários das variadas caves de vinhos do Douro, e que faz o percurso da Foz à Ribeira. Não há vencedores nem vencidos, apenas a certeza de um dia bem passado. Mas para quem deseja manter a saúde, aconselha-se um mergulho, acompanhado pelo nascer do sol, nas praias do Douro. Diz-se que a água neste dia purifica e um só banho naquelas zonas vale por nove. A água tem, aliás, um importante valor simbólico, pois estabelece a ligação directa entre o Santo e o Novo Testamento, já que foi no leito de um rio, o Jordão, que Jesus foi baptizado por São João Baptista. Talvez por isso,ainda hoje subsistam determinados hábitos que fazem a ponte entre esta simbologia e os costumes pagãos. Como aqueles que determinam que as jovens que desejam casar coloquem numa taça com água um conjunto de papéis dobrados onde estarão inscritos os nomes dos pretendentes. Deixada ao relento, a taça apanhará o orvalho da noite e fará com que um dos papéis se apresente mais aberto, deixando perceber o nome daquele que irá ganhar o seu coração. É assim, no S. João.
Fonte : Igreja e Torre dos Clérigos #19#, O País das Maravilhas, Produto Oficial, 7 Maravilhas de Portugal, 07.07.2007, Lisboa, Tugaland Edições.
E para que as possam partilhar comigo, aqui estão elas. Saudações festivas do Francisco.
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